terça-feira, janeiro 31, 2006

Theresa,

Muito me diverte e ao mesmo tempo me coloca pensar, a capacidade que temos em dissertar sobre certos aspectos e coisas que nos rodeiam e nos soam comum.Talvez, dentro disso tudo,também haja um interesse.Uma válvula de escape que podemos acionar assim como em um piscar de olhos.Sinto que a cada carta,envelecemos.Atingimos o parêmetro do crescimento de forma gradativa mas nem por isso rápida."Temos todo tempo do mundo".Mas será que sabemos desfrutá-lo?Será que há alguém capaz,com tal corajem e audácia, de se fazer presente no dia de minha partida e lhes dizer em auto e bom som:Esse,esse viveu!Ou poderia surpriender a todos de meu Reino dizendo:Ele,ele foi uma farsa.Caberia a cada um decidir o caminho para onde levar a sua crença.

E é o no meio disso tudo que emcontro minhas questões.O julgamento de alguém,pode ser tão fiel a ponto de fazer um fulano,aquele de sempre,com suas mesmas mesmices,seu jeito peculiar,seu bafo suado,desistir mundo a fora?Quão importante é para um o que os dois parados esquina adentro pensam sobre sua vestimenta.Suja não esta.Rasgada muitos menos.Grife não tem.Mas vem com dignidade e prazo de validade.Até quando valerão meus sentimentos.É preciso encontrar um meio termo entre passividade e permissividade para poder melhos julgá-los.Julgá-los?E esse meio,eu ainda não avistei.

Tomar o lugar da pláteia.Minto.Fazer parte dela.É um obstáculo que confesso,também me atrai.Mas confesso também que não sei ao certo se seria digno de tão especial participação e comportamento.Tenho pitacos maiores e me aflinge o fato de não poder mudar o fim da história.O que começo gosto de terminar e o que termino,procuro deixar sem recomeço.Cópias me angustiam e me fazem cada vez mais desgostar do lugar onde habito.

Ando de forma tranquila por essa ruelas e muitas vezes me pego pensando no sentido de tudo.No sentido que tem o sentir e como difífil é,saber transmitir o que se sente, na hora certa,no ligar certo,no tom exato.Penso também que muitos não querem ver a imensidão do gostar que tem a seus respectivos pés.Pobres desses,que se repreendem com o medo de nao saber lidar,liderar tamanha grandesa.Ricos esses,que se repreendem prendendo-se só ao amor próximo,evitando assim preocupações futuras com o jardineiro,com o pintor,com o alfaiate,com, o zelador e com todas as funções que por agora quiseres pensar.

Pense!

Cordialmente,

Rei de Ouros

domingo, janeiro 29, 2006

Amado Rei,

Sua descrição da cor cinza me fez pensar. Não consigo evitar uma alusão às pessoas. Tenho a impressão de que nós também somos cinza. Cinza formado da mistura de opostos, cinza que a cada nova experiência é acrescido de tonalidades, tornando-se mais brando ou ofuscante, porém... ainda cinza. Se assim for, seríamos todos iguais perante a olhos distantes e absurdamente diferentes à aqueles que apurarem a vista. Sim, cinza é mesmo uma cor incrível.

Minha platéia é mesmo real, posto que nunca duvidei de sua existência. Não há um só dia que não dedique à ela! Apresenta-se, realmente, diminuta. Porém fidedigna como nenhuma outra.
É claro que, humana que sou, não nego que me ponho à mercê de carências, procurando elogios, aplausos, antes mesmo de o espetáculo terminar. Ando meio assim, meio assado. Me assoma uma vontade de sentar-me junto à platéia e deixar que outros terminem o que comecei. Quero rir e chorar ao lado dos que amo, não à frente dos mesmos. [Creio que Vossa Majestade está conseguindo me compreender, já que vives em cima de um palanque].
Essa gente reunida para te prestigiar é realmente enervante, já essa expectativa...dá nos nervos.

Oh não, não conseguiria nem em mil anos me controlar. E nem o quero. Sabes, eu preciso de surpresas, novidades. Preciso acordar achando tudo indiferente, preciso adormecer achando tudo importante. Gosto muito dessa minha inconstância. Ela me excita a esperança.
Sentimento fulgaz, algo que me venha de supetão? Ora não me fales disso! Se me pego esperando, já não me surpreendo! Terei de concordar, embora, que tudo isso faz muito bem à alma.

Não sou adepta do arrependimento. Não acredito no mesmo. Arrependimento para mim é medo de aceitar o erro. É medo, de ter de aprender com o erro. Não, não me arrependo. O que tenho pensado, e muito, é nos verdadeiros objetivos que nos levam a fazer as coisas e suas possíveis consequências. Há um tempo que venho lhe falando da minha desconfiança por aqueles que se dizem altruístas. "Todo gesto, toda palavra, todo movimento desinteressado visando uma realidade fora da nossa é mais egoísta que o mais sórdido interesse.Porque nasce do orgulho e pressupõe um julgamento."
Não sei, muito controverso esse assunto. E acarreta, como agora, a vontade de descobrir o interesse em tudo, o interesse em escrever-lhe esta carta, o interesse em fumar um cigarro, o interesse em sentir saudades, o interesse em uma cerveja, etc. Chega, já estou me atrapalhando muito, esse é um tipo de avaliação para muitas mentes e eu prefiro preservar a minha, por enquanto.

Outro pensamento, de muito constante, acerca no tópico julgamento. Será que temos mesmo o direito de julgarmo-nos uns aos outros? Direito ou não, é inevitável. E delicado também, sabes que uma atitude julgada nunca se apresenta 'por certa'. E essas interpretações são as que definem o meio em que convivemos, com quem nos involvemos, como nos apresentamos, e tudo o mais.
Chego à conclusão de que viver é mesmo complicado, trabalhoso, delicado. E fascinante.

Com carinho e saudades,

Teresa.

*Agradeço a oferta de seus cavalos porém tendo a recusá-la. Prefiro caminhar, não vou com o intuito de apenas olhar o reino, e sim sentí-lo.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Querida Theresa,

Quando me sugere a cor de tom cinza,acerta como nunca acertou na vida.Aceito sua contribuição como também não posso deixar de lhe dizer como fiquei grato por me abrir os olhos a essa coloração tão simples.Que do preto saiu para ter sua real e única natureza.Não se encontram suas variações por ai,pois um cinza claro ja deixou de ser cinza,pois o mesmo a pouco,quando se tranformára já possuia como objetivo clarear a negritude do tom de escuridão.Por isso não há mais porque duvidar de sua singularidade.Colorir será cinza.

Ora!Já tens uma platéia de mãos cheias Thereza.Posso vir a concordar com você que nem tão numerosa e repleta como a de muitos vale a fora.Mas também me cerco pela certeza de que número nunca lhe foi de gosto.Qualidade,isso sim.E é o que tens,cara amiga.Vale viver pois eu estou aqui,ele ali e outros acolá que clamam por ser sucesso mesmo que ele seja passageiro,sofrido e se duradouro... Mando soltar foguetes que possam atingir as mais distantes estrelas que avistarmos de nosso jardim.

Já me refiro aos aposentos deste Castelo na primeira pessoa do plural pois sua presença no mesmo já se faz indispensável!Torno a dizer que se conhecer não é contralar.A oportunidade de um sentimento fulgaz,uma louca paixão,algo que venha de supetão ilimitando limites,se permite o pleonasmo,tende brotar dentro de ti.As verdadeiras mudanças ocorrem de dentro para fora.

Espero que não estejas arrependida por suas atitudes.Isso cabe ao dissernimento julgar.Peço-te que tenha paciência e que se possível,compreendendo a difilculdade que tens como eu, não se culpe tanto pelos erros dos outros.Lembre-se sempre que um conselho não ú uma ordem.Sábio aquele que sabe ouvir e dentro de si procurar abrigo para seguí-lo ou não.O que fazes é apenas um pontapé perto de tamanha confusão que todos teimam em aumentar cada vez mais em suas respectivas vidas.Portanto, tenha consciência de que o certo não é certo quando para mim o que fazes de errado,certo seria.

Não precisas agradecer a mim.Podes carregar a certeza de que sempre estarei ao seu lado.Cavalgar?Uma ótima idéia.Temos muitos cavalos em nosso celeiro.Fique a vontade para passeiar por todo o espaço.Cuidado com as florestas e não cavalgue depois do escurecer,aqui temos segurança,mas há de concordar que é melhor prevenir ao remdiar.

Fique Bem

Rei de Ouros

Alteza,

Sim, sua faixa há de muito servir. Um mundo mais colorido é o que sonham os esperançosos, credores que possam enxergar todas as cores em uma só. Porém, peco-te que a escreva em cinza. Ah! Como sou fã do cinza, cinza este que pela simplicidade que obtém, nos liberta a atingir o mais ofuscante tom da vida. Cinza este que nos mostra que o mundo não precisa ser preto e branco, e sim preto no branco. Cinza este, que nunca voltará ao seu tom inicial, por mais que tentemos. O cinza será sempre cinza, mas nos abrirá portas para um mundo multicolor. Cinza de início, cinza de fim. O meio? Ah, o meio nós coloriremos.

Não poderíeis estar mais certo ao dissertar-me sobre a arte. No entanto, esqueceste que depois das cortinas fechadas há sempre o abraço daqueles que como a ti mesmo se esforçaram e tiveram o trabalho realizado, a missão cumprida, o sonho aplaudido. Aplausos, os aplausos também perdurarão na memória de todos que os ouvirem. De que vale viver se não pudermos apreciar a exaltação de uma platéia, por mais momentânea que seja?

Entendo a importância do auto-julgamento, mas temos também de nos impor certos limites.Creio eu, que se me conhecer mais, talvez enlouqueça. É um fardo muito grande ter em mãos, o próprio destino. Nos tira a fascinação de uma atitude inesperada, de um sentimento arrebatador, a vida fica previsível.

Frases simples, essas sim têm o seu próprio sabor. Vale a pena viver por elas. Tamanha simplicidade esta, que tornam-se impossíveis de decifrar ao certo, apenas nos deixam chegar perto, mais perto, mais perto e , por mais que saibamos que nunca chegaremos lá, a euforia de estar quase chegando compensa a luta.

Tenho, momentaneamente, o pesar da palavra dita.Ora! Que covardia é essa que me invade justamente quando a alma extravasa pela boca? Ter o dito pelo não dito, o que é isso afinal?Arrependimento?Não! Acredito que seja apenas o medo de ter os sentimentos esbravejados a olhos vistos e , assim sendo, confirmada a sua existência. Sabes muito bem, que enquanto nos resta a dúvida, há sempre uma alternativa, há sempre um modo de fuga. Mas, uma vez a certeza instalada, não há mais como evitar o embate.

Agradeço-te, ó majestade, por ouvir-me de tão bom grado. Mesmo quando silencias sinto teus braços a me envolverem em um abraço de conforto. Às vezes me esqueço da sorte que tenho. Aqueles que me ouvem são os mesmos que me querem escutar.

Dê lembranças à sua amada, creio que agora, passada a tormenta, ela esteja finalmente se adaptando à nova moradia.

Cordialmente,

Teresa.


*Creio que estou pronta para conhecer novos horizontes que margeiam seu reino. Cavalgarei por uns dias, olhos voltados para onde vou, coração para onde fico.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Theresa,

Já me decido.Teremos sim uma faixa e ela há de ser imensa,que vá do topo do Castelo as pedras que o defendem do rio que nos cerca.Grande como em campanhas publicitários,políticas.Branca, para que assim possa refletir a cor que o dia desejar.Para que assim possamos ver nela a sombra das gaivotas,o amarelado dos girasóis pela manhã.Dizeres?Um.Apenas um só.Colorir.A vida precisa ser mais colorida e temos em mãos uma faixas branca,de cor antônima ao que nela é dito,pois a coloração não está só no pintar,e sim, no sentir também.

Ora mais como gosto também de forças criadas,verdade inventada,nomes trocados, roupa costumizada... Tudo isso tem de ter um limite.Pois não podemos cair em tentação de vivermos a vida de outro.Sabes que sou total a favor da arte de interpretar.Mas a vida não é um palco,sim todos nós somos personagens dela... Há uma grande diferença nisso tudo e aqui esta ela: uma hora a cortina fecha,se vão as luzes e o mais triste de tudo,a platéia.N0 teatro temos inicio,meio e fim, respectivamente cronometrados e rigidamente seguidos.Todos sabemos a hora do final,onde nos colocamos de pé.Aplausos.No lado vital,a grande incógnita que aflige a humanidade é não poder saber o final desta grande história,não poder saber porque uns tem menos tempo para dar suas falas,porque outros nem chance de entrar na cochia para trocar o figurino tem,porque uns tem mais foco e outros luz nenhuma...

Meu medo de sua solidão já é definido.Me toma de angútia pensar na hipótese de que o seu tempo passe,de que você se perca em tantas outras vidas e acabe esquecendo da sua.Saiba que nada me põe mais feliz em poder dividir meus sorrisos com a senhora.Mas é preciso que tenha seus própios,suas cartas de amor,seus suspiros,suas lágrimas,discussões,alegrias,músicas,danças e as breguices mais lindas que só o amor pode nos oferecer.

Conversa mais com o seu espelho.Deixe de ser você e tente se "auto-julgar" por olhares estranhos.Talvez seja um pouco Alice,essa pode ser uma bela saída.Tente entender que aqui,de frente para o espelho segura a maçã com a mão direito.E dentro dele?Com qual mão segura a maçã Theresa?Respostas fáceis não são simples.E a simplicidade anda em falta por um país londe de ser o das maravilhas.

Fique bem,

Rei de Ouros

domingo, janeiro 22, 2006

Vossa Majestade,

Sim, entendo quando falas de força. Força é um mal necessário que por muitas vezes impõe sua existência. Não sei se tenho a força que me é exigida, mas aprendi a inventa-la. E, embora não me orgulhe, não me arrependo de tê-la criado. Essa minha força evita e ameniza muitos sofrimentos alheios. Sei, sei que já devia ter me livrado desse dever de ajudar os outros. Mas se me privar desse consolo, dessa ‘qualidade’, já não sei se me restará alguma.
Muito controversa essa questão de auto-afirmação não é?! Vivo me atrelando aos bons critérios de minha pessoa, mas inconscientemente me questiono se todos eles são como essa minha força. Inventados, desculpados, medrosos, ‘altruístas’.
O que sei é que não posso mais lidar com tais sofrimentos, já muito me atingem aqueles em que não tive participação, não agüentaria se estes fossem, mesmo que indiretamente, provocados por mim. Muito menos travaria uma luta contra o espelho, só eu sei quanta dor senti ao desagradá-lo. Esse meu espelho já não reflete mais a minha imagem, mas é um lugar ao qual olhar. É um olho que olha de volta, mesmo sem se preocupar, mesmo sem me alcançar.

Sei também que se preocupa com minha solidão. Não mais o faça. Admito sim, que muito me aflige. Mas só me dispensarei dela no momento em que encontrar algo real, no momento em que me sinta real. Enquanto isso, aprecio a felicidade dos que vivem ao meu redor, desfruto das alegrias que me passam os que sorriem. E tenho, finalmente, esperanças de que possa um dia acrescentar ao meu sorriso mais esse significado.

Quanto à arte? Ah sim, viva de arte, seja a arte! Faça da sua vida um livro, uma peça, uma canção. Não lhe é preciso o abandono do trono. Para a arte não há imposições, a arte é de cada um e todos somos dela.

Ah, como gosto dessas setas azuis! Caminho de olhos fechados para abri-los e descobrir que meus passos ainda as seguem. Elas guiam meus pés. Elas não indicam, mas reafirmam o caminho certo.

Encarecidamente,

Teresa.

*Peco-te que ponha a minha vista essa nova faixa. Gostarei muito de olhar os seus dizeres pela manhã.

sábado, janeiro 21, 2006

Conselheira,

Caminhei sim,ora mas como caminhei.Minhas pernas fraquejaram por muitos,mas obtive força e garra para reergue-las.O medo de ficar só também me agustiava de tal maneira que, muitas vezes, me fiz de forte perante os outros.Força essa, que não tinha e agora começo a construir aos poucos... De forma delicada e fiel.Realmente se o ocorresse ficaria sem base,sem rumo, destino ou algo que o valha.Mas ela não se vai,fica e ainda vamos brindar muitos carnavais por essas infinitas ruelas de meu Reino.

Par ou ímpar?Perguntam os pequeninos na hora de lhe revelar quem conta.Quem afinal,conta?Quem conta um conto aumenta um ponto?Quem um é,com outro forma dois?Ou continua a ser um,se o outro mais um só é?Se forma nasce um par?Ou um par,ímpar?(...)

Ando por esse permeios alisando cada braço de enlaço e concluindo que a vida vale a pena.A cabeça de um apaixonado pensa deveras diferente de outro que não.Estamos tendo por aqui belissimos dias de Rei... Passeatas,carros,carroagens,a burguesia alegre apresenta sua prole,fogos de articio,oficio do povo... Os girassóis?Vão bem...Eu não sei..

Sei que ando com saudade.Saudade de tudo e todos,uma daquelas que entra sem bater,sem pedir licença,entende?Periodo de ver fotos,relembrar,pensar,criar... Só eu sei como preciso criar,como tenho fome de movimentar esse Lugarejo onde habito.Como tenho vontade de largar o trono,não assinar mais pergaminhos e viver de arte.Viver de arte de minhas flores e amores."Quem vai pagar o enterro e as flores se eu morrer de amores?".

As setas azuis me vigiam consecutivamente.Não sei você, mas essa idéia francesa me deixou um poco sem praia.Não penso em ir ao mar,só de seguir as infinitas setas azuis.E eu lhe digo que estou "vibrando" mas não com tanto exito do que se estivesse 'em boa compania".

Falar de tudo e não falar de nada.Pensar em mim e pensar no mundo.Ser um charrete desgovernada."Só sei que nada sei".Tenho que comprar novos adubos,mudas,quero belas mudas para o inicio de fevereiro.Vou mandar pintar o Castelo e pendurar e uma faixa,ainda não sei o que ela comporta nem sua cor.Mais a partir de agora,vamos ter uma faixa!

Cordialmente

Rei de Ouros

terça-feira, janeiro 17, 2006

Alteza,

Tenho, em uma redoma, enjaulada, encapsulada em minha mente uma singular palavra que uma vez compôs uma frase talvez de consolo, mas que muito me perturba o sono. Disseram-me que era ímpar. O ímpar é sobra, essencial, porém sobra.O ímpar, contraditório por si só, têm apenas duas formas de existência: ou se sustenta só, ou precisa viver atrelado a um par. Sendo assim, eis a árdua tarefa de decifrá-lo. Auto-suficiente ou Parasita? Ou os dois? Ou nenhum?
O ímpar, ao meu ver é aquele fadado à solidão até que se ache outro como ele, para que a junção de dois ímpares transforme-os em par, porém como achar algo que seja igual ao diferente? Pessoas ímpares, ao contrário dos números, não são capazes de dividir-se por nada realmente, acredito que, de tão inteiros que se apresentam, sejam realmente feitos de pedaços. Pedaços esses que roubam dos pares que uma vez os abrigaram.
Já não me restam dúvidas quanto a singularidade do ímpar mas muito me questiono se gosto ou não de ser descrita como tal.

Em resposta a seus pensamentos, fico feliz de que tenha acrescentado alguns passos em direção ao tortuoso caminho da vida. Passos esse que rumam para o engrandecimento de sua pessoa que de tanto caminhar, ainda lhe resta um longo caminho. E assim somos todos, quanto mais nos digamos maduros mais temos de aprender. Concordo quando dizes que crês em duas formas de crescimento, uma finita, outra não, porém interligadas ao ponto de basearem sua existência nessa ligação.
Também fiquei deveras aliviada ao saber que sua amada se prolongará mais por aqui. Sabes que tenho muito carinho por ela e mais ainda pelos dois. Mas hei de confessar-te que meus receios com relação à sua partida tenham sido, em parte, por proveito próprio (ainda duvido muito da existência do altruísmo). Sabes que ainda me recupero do cansaço que aflige a alma devido à tamanha carga emocional a mim depositada por outrem. Temi não poder ajudá-lo como mereces, temi um pouco mais que tamanha preocupação me atingisse de vez , deixando vossa majestade com uma base enfraquecida, temi não ter mais aonde depositar as esperanças, temi não aguentar ver-te com a expressão atenuada por lágrimas, temi que não tivessem realizado tudo que tinham de realizar, temi que tivesse acabado antes mesmo de começar, de recomeçar.
Mas isto são águas findas e tudo já volta a seus eixos. A tempestade já passara e a calmaria começa a se instalar. A mulher invisível que quase soterraste resolveu colorir-se. Vestirá trajes com cores de almodovar, cores de frida kahlo, cores. E apenas retornará a sua invisibilidade quando mais uma vez perceber que a sensibilidade alheia esteja diminuta ao ponto de vê-la desbotada.

Com congratulações e desejos de continuidade,

Teresa.

*Sim, piratas existem, e como existem. Sabe, acredito que temos o direito de ser o que quisermos. Ninguém ainda conseguiu provar que não vivemos nos sonhos. Quem sabe o que chamamos de sonho seja a realidade e vice-versa?!

*Se algum dia eu me perder, peço a ti que me procures com fotografias montadas espalhadas pelo reino.
*Se algum dia quiseres me encontrar, siga as setas azuis e encontrarás quem te apontes para onde poderás me ver.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Querida Theresa,

São nessas madrugadas intermináveis que me tomo pela inspiração e vontade de lhe escrever.Narrar à você minha história,meu pesar,meu penar.Estou radiante de não caber em mim mesmo.Minha imagem já não é a mesma e nela lê-se:FELICIDADE.O presente tão esperado,encomenda,de um vale distante, quase inatingível,chegou.Veio a trote,a cavalgadas tão rápidas que de supetão,fizeram-me o coração desparar.

A minha amada já não se vai mais.Recebeste pela divina,a oportunidade de ficar mais e aqui descobrir o quão belo e tamanho ainda meu vale o tem para oferecer.Meu jardim parece reflorecer.As violetas cantam sinfonias,gritam,de esbravejar alegria.Até as cores mudaram.Hoje, mais do que nunca, percebo o real valor de uma perda temida.

Peço desculpas por não ter-lhe respondido com destreza como deveras.É que em meio a toda essa angústia passei desapercebido por muitos e muitas.Até quase capaz fui eu,de soterrar uma mulher invisível.A dificuldade dos pergaminhos e penas leves que esmagaçadas são por minhas mãos, devido a veracidade que minhas palavras ejaculam ao serem transcritas, também me cansam.É preciso compreender que já não sou o mesmo de tempos atrás.A mocidade passou e isso não se recupera.

Mas vamor ver as coisas com outros olhos.Afinal nunca se é velho,experiente assim prefiro me referir ao fato de crescer,duas vezes na vida.Ó vida que nos leva a navegar por mares nunca então havistados,nem pelos mais velhos e ancestrais piratas da literatura.Já estou eu a dissertar sobre o que não me é de conhecimento... Sabe lá também, a literatura tão repleta e completa... Devem de haver piratas.Ora se devem!

Fico feliz ao ver a sua rápida adaptação as minhas terras.Tomara-lhe que um dia resida por aqui e não esteja à passeio como por agora.Há de conhecer ainda as profundezas de meus rios e o doce açúcar que minhas mulheres exalam ao encrementar grandes mesas e jantares.

Respeitosamente,

Rei de Ouros

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Meu rei,

Não careço de guardas. A procura é minha, talvez tenha perdido de tanto procurar. Sabes que sou ansiosa. Tenho urgência de respostas para minhas infinitas perguntas. Talvez por isso relute tanto em pedir, não me satisfaço com pouco. Quero tudo e agora, quero olhar para o mundo para não me ver. Mas me saboto, porque me vejo no mundo. E me vejo em você. Pelo menos me via.Agora, olho-te e vejo apenas a imensidão que és. Tenho medo, não sei o quanto isso é bom, ou ruim. Tudo na vida tem suas facetas, não é? Perdi o dom que tinha de classificar e comparar o grau das coisas. Talvez tenha aprendido que não podemos comparar mais nada na vida. Isso me confunde.
Ainda insisto nos meus por quês. Não consigo me desligar das respostas. Tantas perguntas para tão mais respostas. A cada vez que me questiono mais lados conheço das perguntas que fiz. Assim as respostas tornam-se mais perguntas. Voltamos ao ciclo. Quem sabe essa não seja mais uma das características do ser humano? Devido à tamanha ânsia de resoluções nos atrapalhamos nos tópicos e assim, conseguimos fugir da pergunta que antes fizemos. Acho que, na verdade, não queremos ser respondidos. Queremos apenas nos livrar da angustia de não ter perguntado.
Peço-te perdão por tantas orações sem sentido aqui jogadas a ti como chuva em terra seca. Mas não consigo mais organizar as folhas. Meu caderno não deve estar perdido, acho que não agüentou o peso das anotações que fiz e resolveu dividir-se. Abandonou tudo e atirou suas páginas ao vento. Talvez esse era seu objetivo final, uma vez que as páginas não eram numeradas.
Ah, como queria ser um caderno de notas! Dividir-me em sub-temas e me jogar de um precipício acariciado pelo vento! Assim, poderia ver e contemplar todo o seu reino, sugar tudo que quisesse e então, em uma curva do horizonte, me encontrar com as outras partes de mim e me tornar um todo.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Querida Theresa,

Ora, penso,penso,repenso e chego na mesma e intensa conclusão:o que é a vida se não um eterno plano para o futuro.O que é a vida se não a angústia de não saber o que virá amanhã.O que é a vida se não vivida por pontos de interrogação?"O que será do amanhã..."

A mudança em nossas vidas é constante e concerteza vivemos em ciclo.Mas afinal, o que é uma virada para uma vida que se vira todos os dias.As voltas não cessam e a vontade de que elas parem é distoante também.O pessoal,o desejo é o que torna o irreal possível,por isso mudei.Mudo e o tempo passa e muda comigo.Estou em frequente readaptação pois a senhora já é sabida de quão extenso é meu povo e de como tenho difilculdades de lidar e liderar com a mesma perseverança que sonho para minha própria vida.

Meu jardim sim, esse muito me mostra.Fico muito honrrado que Vossa Santidade tenha ficado lisonjeada pelo andar de meus girassóis acompanhados dos seus.A janela ja secou, a vista dela ja não me é única... Pois até as flores reclinam para novas vistas quando enjôam do mesmo lado de caule.Vou mandar fazer novas janelase fontes para que eu possa a cada semana mudar de horizonte e ver de maneira diferente meus amores,minhas flores.

Não se espelhe em mim querida.Veja você em sua magnetude e simplicidade.Veja a sua imensa capacidade de acabar com a minha rotina e de sempre me trazer um sorriso em horas de carências temporais.Para mim,sua presença é como um Relicário onde posso fazer meus mais íntimos e detalhados pedidos sem medo de receber um não, mesmo sabendo que eles não possuem a menor possibilidade de serem cumpridos.

É mesmo que já venho me dando conta de dizeres perdidos por aí.Preso em folhas... Poemas e anotações caidas do céu como fogos de artifício.Talvez esse seja o ofício,perder pensamentos lentos para que em olhos alheios eles possam ter mais e melhores sentidos,significados.Mas sinta-se a vontade de convocar a guarda do Castelo para uma busca,reafirmo que meus homens estão ao seu dispor.

Fique bem...

Rei de Ouros

Meu rei,

Foi dia de festa no reino. Todos se arrumaram e esperaram a tão importante meia noite, hora em que a noite vira dia e entramos no amanha. No entanto, meia noite também é hora de encantos desfeitos (e outros reformulados), é hora de voltar à realidade e descobrir que a vida não é a mesma. Vida nova. O quanto almejamos e tememos o diferente? Estamos sempre criticando o presente e fazendo novos planos para o futuro. Planos que sabemos não ter coragem de cumprir. Ora, somos todos humanos, vivemos disso, o que faríamos se a vida fosse perfeita? Não existiria a graça dos encontros, sem os desencontros, não há compatibilidade sem divergência, não há amor sem discórdia.
Sinto que minha vida muda, sinto que mudo. A cada dia novos sentimentos e pensamentos assomam em minha cabeça e não sei como lidar com eles. Temo que tenha de me adaptar.
Vossa majestade também mudou, te olho e não te vejo, talvez porque já tenha visto demais, talvez porque não tenha visto nada. Quero ver-te e ver a mim dentro de ti. Tens tão vasto reino que às vezes sinto que não sabes o poder que tens. Não olhes mais pela janela, meu rei, veja a tua casa, seus armários que muito escondem, no máximo o teu jardim (que diz sobre ti mais do que pensas). Me preocupo pois sinto que deixaste de guiar a vida e está sendo guiado por ela. Não quero mais que sofra pelo sofrimento alheio, eu já fiz isso e não é bom. Acabamos perdendo nossa identidade.
Cada vez mais me convenço que vivemos em ciclo, tudo que começa um dia acaba, ao menos ameniza, e alcançar a tão controversa estabilidade é privilégio para poucos. Estabilidade essa muitas vezes confundida com rotina. Já não falo mais mal da rotina. Esta é apenas a certeza de que teremos surpresas. A rotina em si nunca se apresenta da mesma forma, então,(Porra!), por quê cismamos em criticá-la?! Por favor, não me entenda mal, ainda quero o diferente, o misterioso, mas anseio a presença constante do mesmo. Essa é a minha rotina. E a sua? Como é?

Com amor,
Teresa.

*Minha chegada ao reino foi boa, teus girassóis acompanharam meu andar e, embora soubesse que em minhas costas queimava o resplandecente astro, gostei de pensar que talvez ainda tenha uma luz que atraia os olhares das flores.

*A festa também teve seus momentos, embora não tenha conseguido achar meu caderno de notas.Tenho encontrado apenas algumas folhas soltas. Será que tu tens idéia onde foi parar meu caderno de notas?