quinta-feira, janeiro 26, 2006

Alteza,

Sim, sua faixa há de muito servir. Um mundo mais colorido é o que sonham os esperançosos, credores que possam enxergar todas as cores em uma só. Porém, peco-te que a escreva em cinza. Ah! Como sou fã do cinza, cinza este que pela simplicidade que obtém, nos liberta a atingir o mais ofuscante tom da vida. Cinza este que nos mostra que o mundo não precisa ser preto e branco, e sim preto no branco. Cinza este, que nunca voltará ao seu tom inicial, por mais que tentemos. O cinza será sempre cinza, mas nos abrirá portas para um mundo multicolor. Cinza de início, cinza de fim. O meio? Ah, o meio nós coloriremos.

Não poderíeis estar mais certo ao dissertar-me sobre a arte. No entanto, esqueceste que depois das cortinas fechadas há sempre o abraço daqueles que como a ti mesmo se esforçaram e tiveram o trabalho realizado, a missão cumprida, o sonho aplaudido. Aplausos, os aplausos também perdurarão na memória de todos que os ouvirem. De que vale viver se não pudermos apreciar a exaltação de uma platéia, por mais momentânea que seja?

Entendo a importância do auto-julgamento, mas temos também de nos impor certos limites.Creio eu, que se me conhecer mais, talvez enlouqueça. É um fardo muito grande ter em mãos, o próprio destino. Nos tira a fascinação de uma atitude inesperada, de um sentimento arrebatador, a vida fica previsível.

Frases simples, essas sim têm o seu próprio sabor. Vale a pena viver por elas. Tamanha simplicidade esta, que tornam-se impossíveis de decifrar ao certo, apenas nos deixam chegar perto, mais perto, mais perto e , por mais que saibamos que nunca chegaremos lá, a euforia de estar quase chegando compensa a luta.

Tenho, momentaneamente, o pesar da palavra dita.Ora! Que covardia é essa que me invade justamente quando a alma extravasa pela boca? Ter o dito pelo não dito, o que é isso afinal?Arrependimento?Não! Acredito que seja apenas o medo de ter os sentimentos esbravejados a olhos vistos e , assim sendo, confirmada a sua existência. Sabes muito bem, que enquanto nos resta a dúvida, há sempre uma alternativa, há sempre um modo de fuga. Mas, uma vez a certeza instalada, não há mais como evitar o embate.

Agradeço-te, ó majestade, por ouvir-me de tão bom grado. Mesmo quando silencias sinto teus braços a me envolverem em um abraço de conforto. Às vezes me esqueço da sorte que tenho. Aqueles que me ouvem são os mesmos que me querem escutar.

Dê lembranças à sua amada, creio que agora, passada a tormenta, ela esteja finalmente se adaptando à nova moradia.

Cordialmente,

Teresa.


*Creio que estou pronta para conhecer novos horizontes que margeiam seu reino. Cavalgarei por uns dias, olhos voltados para onde vou, coração para onde fico.