quinta-feira, janeiro 05, 2006

Meu rei,

Não careço de guardas. A procura é minha, talvez tenha perdido de tanto procurar. Sabes que sou ansiosa. Tenho urgência de respostas para minhas infinitas perguntas. Talvez por isso relute tanto em pedir, não me satisfaço com pouco. Quero tudo e agora, quero olhar para o mundo para não me ver. Mas me saboto, porque me vejo no mundo. E me vejo em você. Pelo menos me via.Agora, olho-te e vejo apenas a imensidão que és. Tenho medo, não sei o quanto isso é bom, ou ruim. Tudo na vida tem suas facetas, não é? Perdi o dom que tinha de classificar e comparar o grau das coisas. Talvez tenha aprendido que não podemos comparar mais nada na vida. Isso me confunde.
Ainda insisto nos meus por quês. Não consigo me desligar das respostas. Tantas perguntas para tão mais respostas. A cada vez que me questiono mais lados conheço das perguntas que fiz. Assim as respostas tornam-se mais perguntas. Voltamos ao ciclo. Quem sabe essa não seja mais uma das características do ser humano? Devido à tamanha ânsia de resoluções nos atrapalhamos nos tópicos e assim, conseguimos fugir da pergunta que antes fizemos. Acho que, na verdade, não queremos ser respondidos. Queremos apenas nos livrar da angustia de não ter perguntado.
Peço-te perdão por tantas orações sem sentido aqui jogadas a ti como chuva em terra seca. Mas não consigo mais organizar as folhas. Meu caderno não deve estar perdido, acho que não agüentou o peso das anotações que fiz e resolveu dividir-se. Abandonou tudo e atirou suas páginas ao vento. Talvez esse era seu objetivo final, uma vez que as páginas não eram numeradas.
Ah, como queria ser um caderno de notas! Dividir-me em sub-temas e me jogar de um precipício acariciado pelo vento! Assim, poderia ver e contemplar todo o seu reino, sugar tudo que quisesse e então, em uma curva do horizonte, me encontrar com as outras partes de mim e me tornar um todo.